Lucia Laguna se vale da técnica de pintura com o uso de máscara, ou seja, uma fita adesiva que protege certas áreas da tela enquanto em outras a pintura é aplicada. As fitas precisam aderir bem à superfície de pintura para evitar o vazamento da tinta. Depois da pintura completamente seca, as fitas são retiradas, fazendo com que elas estejam ligadas ao tempo lento da própria pintura. No caso da artista, o tempo não está apenas no amadurecimento e no momento de concentração, mas também no tempo da depuração do vocabulário pictórico, da construção vagarosa que se desfaz de tudo aquilo que não é necessário. Depois de cumprirem sua função, as fitas geralmente são descartadas. Mas Lucia Laguna percebe que nelas há algo de fundamental. Elas não são apenas vestígios, restos da pintura, mas testemunhas de um processo de trabalho. As fitas são como índices do próprio fazer, são sinais que indicam o trabalho da artista. Elas trazem algo do excesso de tinta que precisa ser controlado para que a composição apareça, e ganham outra função ao se tornarem matéria prima para obras inéditas. Ao mesmo tempo que são linhas, elas são massas de cor sobrepostas, colagem de fitas com tinta acrílica que formam motivos florais. Lucia Laguna trata o resultado como desenho e colagem, já que estão próximas do universo da representação gráfica e da justaposição de elementos. Mas, em vez de serem desenhos como mera preparação para a pintura, são desenhos que se desdobram da pintura e ganham outra vida a partir do diálogo com o jardim que ocupa a entrada do ateliê da artista.