Na obra de André Ricardo não há oposição entre figuração e abstração. Em suas composições se misturam referências diretas e indiretas da tradição da pintura, assim como de símbolos e de formas ambíguas. Os elementos azuis, por exemplo, fazem alusões a portas, fachadas de casarios ou holofotes. O trabalho do artista se revela aos poucos, com cada elemento surgindo em diálogo com outro. Uma trave apoiada em duas colunas pode ser percebida também como um conjunto de quadrados e retângulos. Ao mesmo tempo que podemos relacionar sua produção com a arte construtiva geométrica, seu trabalho traz também algo de artesanal, de manual. O chamado “popular” e a “cultura erudita” convivem sem conflito na obra de André Ricardo. Em suas pinturas recentes algumas referências à cultura afro-brasileira são recorrentes, mas nem sempre evidentes. A impressão em serigrafia que o artista fez a partir de uma têmpera sobre linho traz motivos que não querem apenas traduzir ideias ou significados. Em vez de meramente representar algo, sua obra é. Não há narrativa ou alegoria, mas um enfrentamento da pintura. A estrutura da composição selecionada para o Clube de Colecionadores do MAM São Paulo se funda na relação entre a linha vermelha e as cores amareladas e azuis. De um fundo ocre, construído por pinceladas curtas, surgemquadrados e retângulos claros e escuros que organizam o espaço. Os elementos flutuam sem se tocarem completamente, gerando uma atmosfera enigmática. Como as formas não são plenamente reconhecíveis, paira uma dúvida que se dissipa na medida em que o equilíbrio e a harmonia são reconhecidos.